Manuel Lima Monteiro Andrade.
Quando não sabemos nós mesmos falar das coisas ou das pessoas, é nosso dever darmos a palavra a quem delas sabe.
Na impossibilidade de o fazer, aqui deixamos algumas passagens do prefácio escrito por Jaime Nogueira Pinto no livro póstumo “MÃOS ABERTAS” poesia, de MANUEL LIMA DE ANDRADE.
- Quando me pediram que escrevesse algumas palavras de introdução a estes poemas de um amigo desaparecido, poemas que mãos familiares e piedosas recolheram, com o amor e a dor de quem muito quis e muito perdeu, fiquei receoso. Comovido, pois que tocado naquilo que os dias e os homens me ensinaram ser mais valioso e verdadeiro, a fraternidade dos amigos e camaradas, transformada, por crueza da sorte, em sangue e silêncio quando alguém como o Manuel de Andrade, parte definitivamente e só o podemos relembrar.
Se um dia se fizer a história desta geração, que foi do Manuel de Andrade, minha e duns poucos amigos comuns, há-de encontrar-se uma galeria de homens e ideias novas.
Manuel de Andrade tinha um sentido estético, que se inclinava para os momentos belos, para as coisas, mas também para a ruína das coisas.
Mais uma vez vem á baila a frase célebre de Fernando Pessoa; “morrer é só não ser visto”….. E o Manuel de Andrade está aí, bem presente, está nestes versos, imagem fiel do que foi e criou. Versos de um jovem que sabia segredos e conhecia os outros.
Creio que a mensagem e memória do Manuel de Andrade, ficava bem assim, como uma lembrança e uma saudação a uma Rosa, à Terra, à Vida, aos vivos.
Deus o levou para Si, num dia de Setembro, ao começo da manhã.
Do prefácio de Jaime Nogueira Pinto
MEUS BEIJOS
Na nocturna solidão
Meus beijos de longe vão
Cair mortos a teus pés
Vão no luar irmanados
Correndo loucos, coitados,
À noite de lés a lés.
Na noite sonho liberto
Sinto talvez mais perto
O calor do teu olhar
E a minha canção vadia
Com a noite magra e fria
Sem te poder encontrar.
Quando pela madrugada
Vem a verdade orvalhada
E a fria realidade
Tudo então desaparece
E do que a luz esvanece
Fica somente a saudade.
Manuel de Andrade
PORQUE HEI-DE CHORAR POR TI?
Tive pena de deixar-te
Tive pena mas parti.
Só se chora por quem parte
Porque hei-de chorar por ti?
No rasto do teu caminho
Canse-me de procurar-te
Mas quando parti sozinho
Tive pena de deixar-te
Dessa paz branda e serena
Que nos teus olhos senti
Confesso que tive pena
Tive pena, mas parti.
Porque razão teimarei
Se não sirvo para amar-te?
Parti e não chorarei
Só se chora por quem parte.
Se tu nunca te lembraste
Daquele amor que senti,
Se nunca por mim choraste
Porque hei-de chorar por ti?
Manuel de Andrade
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